Você sempre se preocupou em entender as obras de arte.
Deslizando por um museu, me encontro ao seu lado, pendurada ao seu ombro enquanto você anda em passos ordenados, seguindo uma linha reta imaginária. É o muro. Você anda sob um muro porque seus olhos se esforçam para mandar a imagem dos quadros, em seus borrões e ilusões, para o cérebro, mas esse ocupa-se recebendo os impulsos do sistema nervoso: o calor do meu corpo apoiado no seu.
John Fusciante certa vez falou sobre o grito do Kurt Cobain, especificamente em certa música. “Uma celebração da insanidade” ele disse, e você bufa falando que esses caras todos estão cheios de drogas, o que não é mentira.
A insanidade é o nome vulgar da desadequação aos padrões, da falta de juízo, conduta, mas sobretudo, da falta de sentido. Como Delírio, Dr. Bacamarte e tantos outros personagens, os insanos estão em outro lugar que não o nosso.
Nos entregamos certos momentos à abolição de todo e qualquer sentido, quando somos o monstro de quatro pernas e duas cabeças que vibra e treme ao menor estímulo. Algum sujeito metido chega e nos lembra que no sexo tudo tem sentido: o da procriação. Mas quando bloqueamos a ordem natural com uma película de borracha, só sobra o prazer. Um objetivo, mas um sentido?